segunda-feira, 8 de junho de 2020

A genética: Prematuridade e neotenia (Parte II)


A neotenia ("manter a juventude") designa o inacabamento biológico, no plano físico, tornando o ser humano um ser neoténico.

A neotenia revela-se, por um lado, na manutenção das caraterísticas juvenis (juvenilização) na idade adulta, mesmo após atingir a maturidade sexual, dado que o Homem envelhece sem estar completo, tendo apenas alguns pormenores ligeiros, mantendo, por exemplo: forma oval do crânio e a cavidade occipital devido aos genes.


Comparação da evolução das caraterísticas da cara entre vários animais.

Por outro lado, apresenta um crescimento do cérebro lento (cerebralização) o que permite maior flexibilidade e plasticidade[2], favorável à aprendizagem, ao desenvolvimento intelectual e cerebral e à transmissão cultural. A cerebralização ocorre porque o cérebro é grande, o que obriga à antecipação do nascimento devido à fisiologia da mãe.
Processo de Cerebralização 

Consequentemente, o desenvolvimento continua após o nascimento, ou seja, o indivíduo desenvolve-se lentamente, estando dependente dos adultos, durante muito tempo, para lhe ensinar a comer, a falar, a andar... Dando origem à relação mãe-bebé que é reflexo da neotenia e da dependência juvenil, mas que, na idade adulta, se reflete nas relações sociais e nos laços afetivos.




Vantagens/Desvantagem


      “A lentidão do desenvolvimento ontogenético é favorável à aptidão para aprender, ao desenvolvimento intelectual, à impregnação e, portanto, à transmissão cultural.” (Morin, 1975)


      Vários especialistas acreditam que a prematuridade e a neotenia são acompanhadas por inúmeras vantagens, isto é, a prematuridade possibilita o desenvolvimento de muitas capacidades e competências no contexto das interações sociais.

A aprendizagem é consequência da prematuridade e da neotenia.

        Uma vantagem é a plasticidade, levando o ser humano a ter capacidade cerebral de descobrir estratégias adequadas à vida e à resolução de problemas, garantido a evolução e o desenvolvimento. 

A existência de um parto precoce permite que o programa genético seja aberto e que o Homem se torne um animal mais flexível e abundante em conhecimento do que se estivesse unicamente dependente dos instintos. Já que o Homem nunca ultrapassa o ser carácter neoténico, continuando inacabado, imperfeito e em constante aprendizagem.

      A aprendizagem, ao longo de toda a vida, irá cumprir as tarefas que nos outros animais são hereditárias, tornando o processo de adaptação ao meio mais flexível. Contudo, leva à necessidade de produção de cultura, isto é, criar a sua própria adaptação que será transmitida de geração em geração.

Por outro lado, a infância tem uma duração interminável, uma vez que esta é bastante longa, mantendo-se na fase adulta.



Conclusão

O inacabamento biológico do ser humano implica um prolongamento da infância e da adolescência fundamental para o processo de desenvolvimento e de adaptação que contribui para uma melhor aprendizagem da sua cultura. No fundo, a prematuridade e a neotenia do Homem tornam-se essencial ao crescimento ao Homem, bem como o da espécie.

A prematuridade e a neotenia são o início de uma longa aprendizagem.


       “Nós humanos nascemos já o sendo, mas só depois o somos totalmente.” (Fernando Savater)




[2] O cérebro humano no nascimento atinge 25% da dimensão que terá na idade adulta.


Ana Paula Pinto

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